sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Sou um romântico! Como um físico-quântico que relativiza tanto, tanto, que não acredita apenas nas coisas como são postas aos sentidos, mas pelo que se deduz. Sou a voz de um poeta, poeta tuberculoso, quem sabe até já morto e enfaixado numa tumba empoeirada chamada tempo, fugindo da mão da historia humana que dará seu xeque-mate, e eu estou apenas entre um tic e o tac dos seus ponteiros. E sou apenas o que sou, e não o que procuro ser. Por isso um salve, salve a vida! E a liberdade de ao menos podermos acreditarmos que somos livres de verdade! Vivo um sonho desvairado de um insano, prisioneiro das minhas próprias ilusões que vai se esgotando e se perdendo na qualidade do que penso, nas consequências do que sinto, e no ritmo que ando. E assim a vida vai se desfazendo de mim, para depois enfim me fazer sentir o que de fato sou! Sem ouvir, sem falar, sem cheirar, sem sentir, sem ver, e até sem pensar! E me faço rir disso tudo, mas sou apenas um instante deste momento, só um choro... 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Eu e meu nariz nunca nos demos muito bem. Tentamos até uma reconciliação. Aos 12 anos eu decidi que não ia usar mais remédios anti alérgicos, mas por grande ironia da vida, um belo dia na casa de um velho amigo, saí correndo da sala pro jardim e não percebi que a porta de vidro (sem faixa de sinalização nem maçaneta) estava fechada. Resultado: Dentes quebrados, mão engessada, nariz quebrado e porta intacta. Ok, desde esse dia eu acho (nunca fui ao médico) que tenho desvio de septo e não consigo respirar pelos dois buracos. Meu nariz, quando não tá entupido, tá escorrendo. E além disso, sempre passo os primeiros vinte minutos do dia espirrando. Com o bônus de ter um espirro extremamente escandaloso (acho que fico com raiva de ter que espirrar e solto um berro junto), é uma coisa linda de se ver.


Ai que o Neosoro entrou na minha vida. Mas não foi uma entradinha qualquer não, foi amor à primeira vista. Ele me mostrou um novo mundo até então desconhecido... Duas esguichadinhas e meu nariz simplesmente voltou ao que ele nunca foi, tipo mágica. Show de bola, incrível, de repente senti um vigor vitalício! Nada como respirar bem, dormir bem, algumas gotinhas e tudo ganha cores novamente.

Mas, sempre tive tendências viciosas a todas essas coisas que me proporcionam algum momento de prazer e com isso de respiração não se brinca... Tudo bem, eu posso ficar sem cigarro, sem bebida, sem maconha, mas o Neosoro me conquistou lindamente, fabricado para mim, feitos um pro outro. E aqui, você que já teve ou tem algum vício sabe mais ou menos como se dá o desenrolar da história. No início o efeito era de umas 12 horas, tranquilidade! Duas vezes por dia e eu conseguia respirar 24 horas tranquilamente. O que antes eram 4 gotas e 24 horas de satisfação nasal plena, se transformaram em mais de 6 gotas de duas em duas horas e foi piorando... Cheguei a usar um tubo de Neosoro em 2/3 dias e o impacto no bolso não precisa nem ser comentando, né? Pois é, a coisa começou a sair do controle completamente: Um tubo no banheiro (reserva técnica), um do lado da cama, um na sala do dia a dia e um tubinho móvel que sempre saia comigo pra onde quer que eu fosse...

Aos 17 fui morar em Fortaleza. Eu e ele. Pra adiantar um pouco a história e me manter fiel somente ao depoimento de um viciado em descongestionante nasal, conheci uma garota e, por incrível que pareça, também viciada em neosoro, o apelido dela era panela de pressão, do tanto que fungava. Eu não via muita lógica nesse apelido mas cai na onda também. Panelinha era mais viciada que eu, nossa! Muito mais... Ficávamos discutindo onde comprar mais barato o remédio. Um dia achei uma promoção de 3 por 2 e ficamos super felizes, afinal não é fácil para dois estudantes sustentarem um vicio relativamente caro, longe de casa... De repente estávamos comprando em lotes, caixas, pela internet, coisa de maluco... Uma noite, entre várias que passávamos em claro bebendo e escutando música, ela me declarou intimamente que o sonho dela era pular em uma piscina de neosoro... Bom, isso me abateu um pouco. "Peraí, porra. O que tá acontecendo?" - Pensei enquanto jogava uns 20 tubos vazios no lixo e abria outro... 

É isso, decidi deixar ela e o vício e fui embora de Fortaleza... Pensava em como largar dele, mas era como uma coisa impossível, sabe? Não tem como, sem ele não dá pra dormir, não dá pra viver! Preciso respirar, porra! Todo dia tem nego falando que vicia, causa enfarto, sangramento no nariz e o diabo... E eu, tonto, em vez de ignorar essa caretada, ficava me remoendo de culpa e buscando incentivo... Bom, não era burro ao ponto de procurar um médico que me ajudasse a largá-lo, um remédio não vai me livrar de outro, não queria seis por meia dúzia. Fui largando a base da persistência mesmo, força de vontade, esse papo de viciado....

Admito que ainda uso, principalmente quando estou resfriado, mas tento ser mais regular, usar menos, uma gotinha aqui outra ali, antes de dormir.... Ah, também não consegui me desfazer do tubo móvel...


terça-feira, 14 de maio de 2013


Estranho, se tornar estranho de repente
de rei a indulgente
sentir frio onde era quente
se embebedar de pura indolência.

Feito esquisitos que nunca se encontraram
cruzar na esquina conhecida
ou na porta de um armário
fazer que não conhece, sentir o quente esfriando
e o frio que já não aquece.

A coisa só funciona com contrato assinado
saiba das regras antes de apostar
saiba ser estranho e não se encomodar
sentir o frio que antes esquentava
e o quente que não quer esfriar
perder, ganhar....

Não há empate no jogo, no amor ou no azar.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Um garoto jovem e bonito se exercitando na areia da praia, que já foi mais limpa tempos atrás, que já foi mais areia tempos atrás. O garoto também já foi mais jovem e mais bonito, certamente. Dois pescadores ajustando o barco na fila de barcos, um deles desenrola a rede enquanto parece contar uma piada, pelas risadas do amigo que ainda dá os ajustes finais no barco antes de entrarem no mar, às 5:32 da manhã. O céu coberto de nuvens pesadas faz cara de poucos amigos.

Pessoas caminham para um lado e para o outro, a maioria velhos. Todos velhos, exercitando a vida, correndo contra um tempo que já perderam, respirações ofegantes e esperançosas. Sempre estão procurando a fórmula perdida, viver para sempre, terem um dia a mais em que possam se levantar com dificuldade da cama, respirarem e fazerem suas coisinhas. A idade assusta, a morte assusta ainda mais. Não há muito o que fazer.

Os pescadores já entraram no mar, o jovem de cabelos pretos até o ombro tira a camisa e sempre que passa por mim dá um sorriso. Todos andando, correndo, só não descobri pra onde e seja pra onde for estarei correndo na direção contrária, mesmo aqui, com meu short rasgado, sentado na areia a escrever qualquer besteira que me venha na mente ou simplesmente nunca me sentindo cansado de admirar o nascer do sol, com seus raios largos e laranjas rompendo essas pesadas nuvens de poucos amigos que paira sobre esse povo correndo pra algum canto. Ninguém ainda parou pra ver isso?

Um homem com roupas justas faz uma série de exercícios esquisitos e a primeira vista dolorosos. Outro escuta nossas românticas notícias dos jornais por um rádio enquanto se exercita, às 5:40.

Vejo um casal caminhando, amigos conversando e penso que preciso conhecer pessoas novas. Penso em chamar o belo garoto para assistir aquele espetáculo no céu. Mas não há espaço para contemplação. Não há espaço para nada interessante. Precisamos comer, agir, andar. A maioria não aprecia o silêncio, falam demais, entendem demais sobre tudo. 

A pesca deve ter sido boa, ou a piada, um dos barqueiros volta rindo bastante.


segunda-feira, 25 de março de 2013

E você aí postado a minha frente ao sol poente, toda a sua glória em sua forma!
Beleza perfeita de um girassol! excelente existência perfeita de um adorável girassol! doce olho natural voltado para a lua nova "hip", desperto vivaz e excitado respirando a dourada brisa da luz do sol poente!


Quantas moscas zumbiram a seu redor ignorando sua fuligem, enquanto você amaldiçoava os céus da ferrovia em sua alma em flor?


Pobre flor morta? Quando foi que você esqueceu que era uma flor? quando foi que você olhou para sua pele e resolveu que era uma suja e e imponente locomotiva velha? o espectro da locomotiva? a sombra e vulto de uma outrora poderosa locomotiva americana louca?


Você nunca foi uma locomotiva, Girassol, você é um girassol!
E você, Locomotiva, você é uma locomotiva, não se esqueça!
E assim agarrei o duro esqueleto do girassol e o finquei a meu lado como um cetro,
e faço meu sermão para minha alma, e também para a alma de Jack e para quem mais quiser me escutar

.
- Nós não somos nossa pele de sujeira, nós não somos nossa horrorosa locomotiva sem imagem empoeirada e arrebentada, por dentro somos todos girassóis maravilhosos, nós somos abençoados por nosso próprio sêmen & dourados corpos peludos e nus da realização crescendo dentro dos loucos girassóis negros e formais ao pôr do sol, espreitados por nossos olhos à sombra da louca locomotiva do cais na visão do poente de latas e colinas de Frisco sentados ao anoitecer.

sábado, 23 de março de 2013

Jamais percam sua loucura!
A loucura pura, genuína
jamais percam!

Sua juventude é a minha
seus medos, anseios, preocupações
tudo cabe na irrelevância da minha juventude,
da nossa juventude.

É tão meu quanto nosso.

Jamais percam sua loucura!
A chama da juventude não pode envelhecer
e por mais que mude de cor
há de arder em torno da vida
isso pode significar noites em branco
de frio e calor
mas não a perca, por favor!

Blindem sua coragem
lembrem que o caçador 
prendeu o pássaro antes da gaiola.

Talvez nem haja saída
ou nem precise haver
Mas, o que podemos fazer
além daquilo que gostamos?

Somos jovens!

Sua coragem é a minha!

Sente minha fome?

Não entenda, apenas escute.

Os grandes uivam atrás das cortinas
refaça o caminho dos que acreditaram.

Não deixe passar esse tempo!
Não me deixe passar por esse tempo!

E mesmo que a juventude (que é)
se mostre confusa
todos nós sabemos, sozinhos, calados
minutos antes de dormir

Sabemos, no mais íntimo dos anseios
Sabemos, vendo a caretice imortal mancando de bengala
Sabemos, há cada projétil com distintivo
Nós sabemos o que queremos de verdade!

Falta coragem.

Jamais perca sua loucura!

Seja ela qual for.

quarta-feira, 20 de março de 2013

O último filho gay da última geração
da última família fracassada
do último mundo de últimos perdedores,
despreocupado em perpetuar
a mízera condição humana.

À troca justa
pelo preço que escolhe.

O maconheiro cabeludo
não pode dar o cu.
Perseguido por todos os lados
vagabundo por essência
e opção.

O viajante solitário das longas estradas
uma mão estendida implorando carona
meu bom amigo tentando passar calma.

A nova visão de sonhos tão antigos
o cheiro da nova realidade
morros se formam no horizonte
vistos da cabine do caminhão.

o caminhoneiro sonolento
vira o vagão nas curvas da pedreira
e assiste os esfomeados roubarem a carga
o gambá atropelado ao tentar
atravessar a avenida.

Um mundo novo cheio de possibilidades
o pau endurece de tamanha excitação.

A garota por quem me apaixonei
me trocou por uma garota e
foi trabalhar em uma plantação de maconha.

Ela fazia poemas sem sentido aparente
e tinha o sistema solar no ventre
e belos olhos verdes
a conduzir outros lúcidos demais.

O empregado, subordinado
limpador de chão
e engasgador de merda alheia.

O amante poeta com rimas pobres
rei dos lagartos e dos cactos dançantes
o jovem de 17 anos prestes a ser pai
é frentista de um posto abandonado na BR da morte.





terça-feira, 19 de março de 2013

Extraímos conforto em saber que não existe nenhum Deus. Que você não está escravizada a um Céu, feito para se puxar o saco de Deus para sempre. O que você tem é melhor do que o Paraíso. Você tem o esquecimento abençoado. Sinto sua falta todos os dias.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Se eu tivesse um Automóvel Verde
iria procurar meu velho companheiro
na sua casa no Oceano do Oeste.
Ha! Ha! Ha! Ha! Ha!

Tocaria minha buzina na sua máscula porta
lá dentro, sua mulher e três crianças
espreguiçando-se nuas
no assoalho da sala.

Ele viria correndo para fora
até meu carro cheio de heróica cerveja
e pularia gritando ao volante
pois ele é o melhor ao volante.

Peregrinaríamos até a mais alta montanha
das nossas antigas visões das montanhas rochosas
rindo nos braços um do outro,
nosso deleite acima das mais altas rochosas.

e depois da antiga agonia, bêbados de anos novos,
lançando-nos até o nevado horizonte
arrebentando o pára-lama com bop original
de carro envenenado na montanha

Sacudiríamos a nevoenta rodovia
onde anjos de angústia
cambaleiam entre as árvores
e berram diante do motor.

Arderíamos a noite toda entre os pinheiros do pico
visíveis de Denver na escuridão do verão,
clarão nada natural da floresta
iluminando o topo da montanha:

Infância adolescência idade & eternidade
se abririam como doces árvores
para as noites de outra primavera
atordoando-nos de amor,

pois juntos somos capazes de ver
a beleza das almas
ocultos como os diamantes
dentro do relógio do mundo,

somos capazes, assim como os mágicos chineses,
de confundir os imortais com nossa intelectualidade
escondida na neblina,

no Automóvel Verde que eu inventei
imaginei e vislumbrei
nas estradas do mundo

mais real que o motor
numa pista do deserto
mais puro que Greyhound 
e mais rápido que o jato físico.

Denver! Denver! Voltaremos
roncando pelo gramado do edifício City & County
que recebe a pura chama da esmeralda
raiando no rastro do nosso carro.

Desta vez compraremos a cidade!
Descontei um grande cheque na caixa do meu crânio
para abrir uma miraculosa universidade do corpo
no teto da estação rodoviária.

Porém primeiro percorreremos os pontos do centro da cidade
bilhares barracos botequins de jazz cadeia
prostíbulos da rua Folsom 
até os mais escuros becos de Larimer.

Prestando homenagem ao pai de Denver
perdido nos trilhos da ferrovia,
estupor de vinho e silêncio
reverenciando os cortiços das suas décadas,

nós os saudaremos e a sua santificada maleta
de escuro moscatel, beberemos e
quebraremos as doces garrafas
em Diesels demonstrando nossa fidelidade.

E depois seguiremos guiando bêbados pelas avenidas
por onde marcharam exércitos e por onde ainda desfilam
cambaleando sob invisível pendão da realidade.

Trombando pelas ruas, no automóvel do nosso destino
dividiremos um cigarro de arcanjo
e adivinharemos o futuro um do outro:

Famas de sobrenatural iluminação,
desolados e chuvosos vãos no tempo,

A grande arte aprendida na desolação
e nossa separação "beat" seis décadas depois...

e numa encruzilhada de asfalto
nos tratamos mais uma vez com
principesca gentileza, lembrando
famosas conversas mortas de outras cidades.

O pára-brisa cheio de lágrimas,
a chuva que molha nosso peito nu,
e juntos nos ajoelhamos na escuridão
no meio do tráfego noturno do paraíso

agora renovando o solitário juramento
que fizemos um para o outro no Texas:
não posso inscrevê-lo aqui...

Quantas noites de Sábado
teremos deixado bêbadas com esta lenda?
Como fará a jovem Denver para carpir
seu olvidado anjo sexual?

Quantos garotos baterão no piano negro
imitando os excessos de um santo da terra?
Ou garotas que cederam aos desejos 
sob seus espectros nos colégios da noite melancólica?

Quando tivermos o tempo todo na Eternidade
na tênue luz de rádio deste poema
sentaremos atrás das sombras esquecidas
ouvintes do jazz perdido de todos os sábados.

Neal, agora seremos heróis reais
numa guerra entre nossos caralhos e o tempo:
vamos ser os anjos do desejo do mundo
e levemos o mundo para a cama conosco
antes de morrer.

Dormindo sós ou acompanhados
por garota ou garoto ou sonho,
não me faltará o amor e a você a saciedade:
todos os homens caem, nossos pais caíram
antes,

mas ressuscitaremos essa carne perdida,
nada mais que o trabalho de um momento da mente:
um monumento fora do tempo para o amor
na imaginação:

Um mausoléu construído por nossos próprios corpos
consumidos pelo poema invisível
tremeremos em Denver e resistiremos
mesmo que o sangue e rugas ceguem nossos olhos.

Assim, este Automóvel Verde
eu o dou para você em fuga
um presente, um presente
da minha imaginação.

Continuaremos guiando
pelas rochosas
continuaremos guiando
por toda noite até a aurora,

até voltar à sua ferrovia, a Southern Pacific
sua casa e seus filhos
e seus destino de perna quebrada
você guiando de volta pela planície

ao amanhecer: e eu de volta
às minhas visões, meu escritório
e apartamento no leste
retornarei a Nova York.

domingo, 17 de março de 2013


Animei-me um pouco. Disse-lhe que olhava estas paredes 
há meses e meses. Não havia nada no mundo que eu 
conhecesse melhor. Talvez, de fato, há muito tempo, eu
houvesse procurado nelas uma face. Mas essa face tinha a cor do 
céu e a chama do desejo: era a de Maria. Procurara-a em vão. 
Agora, acabara-se. E, em qualquer caso nunca vira esse suor surgir 
da pedra.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Os que não procuram o silêncio
se conformam com uma falsa paz
grite alto para mostrar
frase ensaiada não vai adiantar.

E o que você não diz

atravessa a garganta e um dia vai voltar
mas o que você diz
ninguém está interessado em escutar.

A confusão domina o emocional

é o amor que nos faz odiar
não rejeite o racional
nem espere alguém te ajudar.

É cruel, mal e infiel não adianta pedir perdão
frases ensaiadas não comovem o coração
o seu silêncio, machuca, judia, e espanca até matar
você se cala até o fim, é a facada que não faz sangrar.



sexta-feira, 1 de março de 2013

É fácil ser só e ter de tudo
comida na mesa, não há preocupação
dormir em uma cama de veludo
acordar em uma bela mansão.

eu tiro a faca da cintura
espero você passar
encosto a meia altura
e na ponte furo o teu umbigo.

Moro num casebre fodido
vivo dentro do mangue sujo
pra eles nem soa esquisito
só me chamam de marginal.

Meu camarada,
quando tiro a faca da cintura
e na ponte furo o teu umbigo
tenho dois pirralhos em casa, 
com fome e passando e mal.

Se não tem quem me dê
vou atrás de você
e se na ponte eu furo teu umbigo
não é porque acho legal
mas tenho dois pirralhos em casa
com fome e passando e mal.





segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013


Ajudaê, ajuda ê
Eu sou um deficiente emocional
Preciso de atendimento especial
Ajudaê, ajuda ê.
Preciso de mais chances de emprego
Um chefe que não ralhe com a gente
Preciso de um acesso diferente
Pra poder ter meu acesso dum jeito decente!

Tenho que passar a frente na fila
Pro psicanalista, senão a cuca grila!
Poder pagar esporro a hora que eu quiser,
Preciso de passe livre pra tua mulher.
Por que você não quer o meu pau?
Perfume de bueiro pra mim não é nada
Eu sou um deficiente emocional
Só sinto cheiro de roubada!!!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O poeta não é feito só de versos
por isso saia daí, meu amigo
ganhe o mundo
aposte todos os seus fundos
sem esperar garantia
troque dinheiro por segundos
abra mão da mordomia!

Dê um tchau pra titia e suma!
um artista não é feito só na cena
os grandes cães uivam atrás das cortinas

salvem os palcos, refaçam os caminhos
o caminho dos loucos
pelo caminho se foi o anjo torto
ou acomoda ou se suicida.

resgatem o palhaço já esquecido
a azeda e sutil lembrança
o rosto manchado envelhecido
doce e bárbara esperança

um homem de verdade não deixa farelo de cortiço no vinho.


E suma, meu amigo
não, não enrole
que de poeta bunda mole
verborrágico paralítico
eu já tô de saco cheio!



quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Sou um oceano no seu quarto
esparramado no cobertor recém lavado que te aquece
sempre faço com que você queria continuar

Sou um arco íris na sua cela de prisão
todas as suas lembranças
de tudo que você já cheirou
de tudo que já sentiu

Caindo para o lado da sua cama estreita
você está entre mim e a parede e os filtros dos sonhos
e a parede riscada da alma sente nossa falta

Sou um filho legítimo e um maconheiro
duas pernas que você abre e some
agora, longe, sabemos disso com certeza

Sou a mancha de sangue 
na manga da sua camisa
enquanto todos tentam te matar e te lamber
te ensinarei, de novo, a dançar
dentro de um manicômio

Só não esqueça, não consigo esconder
havia um jogo que tentei incendiá-lo
mas tocamos o sinal de alerta antes do combinado.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ele me deu um beijo na boca e me disse, "a vida é oca, como a toca de um bebê sem cabeça", e eu ri à beça.

E meus deuses são cabeças de bebês sem tocas, era um momento sem medo e sem desejo, ele me deu um beijo na boca e eu correspondi aquele beijo...
A víbora da vaidade literária infere por vezes mordeduras muito fundas e até incuráveis, particularmente aos homens limitados.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

E na empolgação dos primeiros dias de alegria eu digo a mim mesmo (sem imaginar o que vou estar fazer em três semanas) "chega dessa vida desregrada, é hora de observar o mundo em silêncio e até de aproveitar as coisas, primeiro num bosque (nesse momento lembrei da chapada diamantina, suas árvores gigantes, centenárias, centenas de tipos de todas as árvores e cores, um vale afundado pela mineração no coração da natureza.), depois caminhar e falar tranquilamente com as pessoas mundo afora, sem grandes bebedeiras, sem grandes farras, sem ninguém por tão perto.

Não vou mais me perguntar "Ó, porque deus me tortura desse jeito?"... É isso aí, vou ser um solitário, viajar, falar só com os garçons, é sério, pelo país que nasci, falando só com o garçom, dar umas voltas, chega de agonias autoimpostas. É hora de refletir e observar e de se manter concentrado no fato de que afinal toda a superfície do mundo que nós conhecemos vai acabar soterrada pela poeira de bilhões de anos... Sim, mais solidão então."

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Essas esquinas 
quando acabam por me conhecer
doem e torcem os rostos.

O que fiz para merecer essa paz?
O sol esquenta de dentro para fora
pelas vidraças da igreja principal

Tudo é demais na fatalidade dos horários
programados e revertidos de fora pra dentro.

Fatal que seja de você
desautorizo edições
você quis ir, e tudo que foi
a cada dia que passa, deixa ser.

Há sabedoria na chuva que se aproxima
fumo um cigarro no banheiro dos fundos
e me preparo pra voltar
é bom ter pra onde voltar
mesmo quando nada, nada dá certo.

É bom voltar sozinho pra casa.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Em frente a minha janela
há uma árvore
e ela está todo dia lá
só para mim

Ela é grande e suja de carbono
balança de noite sem fazer barulho
parece uma mãe desesperada
e fica lá no cinza da cidade

Não há piedade para a árvore
ou para mim.

Há um mundo de dor
ao meu redor e dela
um mundo de cair de chuva.

Existe uma razão para isso hoje?
Ela escuta os gritos loucos da cidade
enquanto procura o filho que lhe foi tirado
no meio de tanto cinza.

Não há piedade para uma árvore em crescimento.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Se os dias agora são feitos de susto, talvez seja influência da noite agindo sobre nós. Há os que produzem e há os que transformam a própria existência em uma máquina produtora. Você não precisa ter lido todos os livros para saber o que não se aprende. Não serei eu quem te dará um nome. Há sempre uma noite disposta a abrir as portas quando as ruas não ousam oferecer perigo. O certo é que beberei. Mas o quase certo é que você não estará lá. Nem aqui. Mas o absolutamente certo é o que eu não ousarei ficar. Nem aqui. Hoje faz uma semana. Hoje faz um ano. Nem aqui. Há sempre uma misteriosa simetria na ordem dos nossos encontros. Haverá. Nem aqui. As conversas adquirem caetanos quando as rodas ousam se dilatar. Aceitamos a idade assim como nossos discos destinados a fracassar. Há um sol pronto para nascer. Haverá. Existem rodas melancólicas que não te levarão a lugar algum. O lugar mais frio do rio é o meu quarto. Testemunhar apaixonamentos alheios não é minha diversão preferida. O lugar mais frio do rio é o meu quarto. Atravessar uma noite no lugar mais frio do rio. Existem planos que precisam ser feitos. Existem datas prontas para serem colocadas em prática. Há sempre um certo sagrado na madrugada. Haverá. A sabedoria do corpo em paixão é cruzar noites inteiras. Existem aqueles que te desejam o mal. Desejarão. Sem saber o que ganhará de volta um de nós decide começar a jogar. Decidirá. Quase ninguém sabe o que aconteceu. Saberá. Em pouco tempo estaremos na capa de todos os jornais. Será, de novo, temporada de caça às raposas. Agora eu habito o chão. Verlust finalmente ousa encalhar. Faz sol através das frestas da janela do meu quarto. A cápsula, fechada, trajeta entre dois pontos infinitamente distantes. Só muito longe daqui ousarei me abrir. Por enquanto, contento-me com as frestas. E com as pálpebras semicerradas.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Ela chegou fazendo barulho. Todas fazem. Abre sem bater na porta e pergunta se tem água na geladeira.

-Você nunca bate a porta?
- Tem água na geladeira?
-Só na torneira.

E reclama de como nós, homens, somos porcos.

- Ah, vocês homens são uns porcos!

Permaneço na sala, sentado na cadeira de praia com a cabeça encostada na parede. Olhando ela ir e vir, pra lá e pra cá, parece uma louca. Todas são loucas. Pega uma vassoura, arrasta umas baratas de trás do fogão, passa um paninho aqui, outro ali e não consegue ficar quieta. Nenhuma consegue. 

Essa noite ela limpou a casa rapidamente, oito minutos e alguns segundos, a cada dia conseguia melhorar seu tempo, bravo! Parece que se preparava pra algum tipo de olimpíada das piniqueiras, enquanto lançava pratos no melhor estilo frisbee até pia, mandava eu levantar os pés para recolher os cigarros. Genial...

Várias noites se seguiram assim. Pratos lavados, baratas do lado de fora, água da torneira, e muita, muita reclamação! Todas reclamam. Eu apenas ficava calado, na mesma posição. Sentado na cadeira de praia com a cabeça encostada na parede e um cigarro no bico. Não me incomodo com muita coisa.

- Você passa o dia todo nessa cadeira de praia, com a cabeça encostada na parede e um cigarro no bico! Vagabundo!

Tá, deixa eu tentar explicar. Lia apareceu do nada. Não, ela tinha uma vida antes da qual eu não fiz parte e ainda não faço, então.... Tá, espera, vou tentar explicar de outra forma. Lia foi abandonada pelo marido há poucos dias e resolveu passar uma temporada na minha casa. Sabe como é, tentar esquecer aquele safado. Todas (vulgar, vulgar...), arrumam mais um mané disposto a carinhos e algumas bimbadas rápidas que a façam esquecer o outro. Aquele safado... É isso, explicações dispensam a poética.

Então Lia apareceu com uma mala verde, dois sacos plásticos com coisas que não sei até hoje e uma bolsa marrom furreca de couro cheia de utensílios. Elas precisam de muito, muito tudo... Até hoje não sei o motivo de ter aceitado tal oferecimento. Sou forte o bastante para aguentar as minhas frustrações e convivo bem com isso, mas o sofrimento alheio me incomoda mais do que deveria. 2008, 18 anos, enquanto voltava de uma festinha qualquer, caminhando despretensiosamente para casa, frio, peito úmido, aquela velha vontade de vomitar meu ser por completo e deitar o mais rápido possível, encontrei uma bêbada deitada na calçada entre o poste e a árvore. Fodida, estado deplorável do ser humano. Em um acesso reflexivo, desses quando a gente acha que é poeta e entende de alguma porra, pensei na sua família, ocupação, seu trabalho todas essas coisas irritantes que gostamos de nos ocupar, desviei do corpo e segui em caminhada. Algumas jardas na frente pensei em voltar e pelo menos checar se ela ainda tinha pulsação. Qual importância?

 Desde então algo falta em mim, uma lacuna vazia que tento preencher com cerveja barata.

Eu tentei convencê-la, mostrá-la que não estava pronto e por mais que fôssemos amigos, eu não podia fazer muito por ela, além de um cômodo, travesseiro e lençois semi limpos. Porra, Estava fodido, deixado, tentando achar adubo no meio de tanto estrume. Uma réstia de luz, um deja vu, o rosto de Jesus numa torrada, qualquer merda que me desse vontade de fazer alguma coisa nova. Realmente não estava afim de muita conversa. Conversa alguma! Um homem precisa ficar só para dar o passo seguinte e ver no que vai dar, mesmo tendo vaga ideia dos próximos capítulos. Ah, Todas fingem não saber disso...