quarta-feira, 9 de maio de 2012
Sou punk: ”Amanheci determinado a mudar, agora vou ser punk até apodrecer. Apodrecer para incomodar, com meu mau cheiro empesteando o teu jantar. Eu sou punk, nojento, e mais, eu quero é matar minha vozinha, botar veneno na cerveja do meu pai. Não acredito mais em nada, vou cuspir na cara da empregada. Eu sou punk nojento, vulgar, demais".
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Entrou no hospital nervoso e mandou chamar o melhor neurocirurgião. Disse que era caso de vida ou morte. Não se sabe como, o melhor neurocirurgião foi atendê-lo. Médicos são tão imprevisíveis, as vezes precisa-se muito e eles falham; Subitamente, estão ali, salvando nossas vidas, ele pensou, sem se incomodar com o lugar comum.
Finalmente estava na sala diante do doutor. Uma sala branca, anônima. Por que são sempre assim, derrotando a gente logo de entrada?
O médico:
-Sim?
- Quero me operar. Na verdade, quero que o senhor tire um pedaço do meu cérebro.
- Um pedaço do seu cérebro? Por que vou tirar um pedaço do seu cérebro?
-Porque eu quero!
O médico, já um pouco impaciente retruca:
-Sim, mas você precisa me explicar. Justificar.
-Não basta eu querer?
-Claro que não!
- Mas não sou dono do meu corpo?
O médico pensa um, olha o pátio pela janela e responde:
-Em termos.
- Como em termos?
- Bem, o senhor é e não é. Há certas coisas que o senhor está impedido de fazer. Ou melhor, eu estou impedido de fazer no senhor.
-Quem impede?
- A ética, a lei.
-A sua ética manda também no meu corpo? Se pago, se quero, é porque quero fazer do meu corpo aquilo que desejo, e acabou!
- Olha, a gente vai ficar o dia inteiro nessa discussão boba, e eu não tenho tempo a perder. Me diga logo, por que o senhor quer cortar um pedaço do cérebro?
- Quero eliminar minha memória.
- Pra quê?
- Gozado, as pessoas só sabem perguntar: O quê? Por que? Para que? Falei com dezenas de pessoas e todos me perguntaram a mesma coisa. Não podem aceitar pura e simplesmente alguém que deseja eliminar a memória?
- Já que o senhor veio a mim fazer essa operação, tenho ao menos o direito dessa informação.
- Não quero lembrar de nada, só isso! As coisas passaram, passaram. Fim!
- Calma, não é tão simples assim. Na vida diária, o senhor precisa da memória. Para lembrar pequenas coisas, ou grandes compromissos, encontros, coisas a pagar, etc...
- É tudo isso que quero eliminar! Marco numa agenda, olho ali e pronto.
- Não dá pra fazer isso de qualquer modo. A medicina não está tão adiantada assim.
- Quer dizer que em lugar nenhum posso eliminar a memória?
- Que eu saiba não.
Seria muito melhor para os homens. O dia-a-dia. O dia de hoje para a frente. Entende o que quero dizer? Nenhuma lembrança ruim ou boa, nenhuma neurose. O passado fechado, encerrado. Definitivamente bloqueado e perdido no tempo. Não seria engraçado? Não se lembrar do que tomou no café da manhã? E para que quero me lembrar do que tomei no café da manhã?
- Se todos fizessem isso, acabaria a história.
- E quem quer saber de história?
- Imaginou o mundo?
- Feliz, tranquilo. Só de futuro. O dia em vez de se transformar em passado de hoje, mudando-se em futuro. Cada instante projetado para a frente.
- Não seria bem assim. Responde relutante o médico. - Teríamos apenas uma soma de instantes perdidos. Nada mais. Cada segundo eliminado, a sua existência comprovada através de que?
- Quem quer provar a existência?
- A gente precisa!
-Para que???
O médico pensou, pensou... Não conseguiu responder. O homem tinha-o deixado totalmente confuso. Pediu ao homem que voltasse outro dia, despediram-se. O médico subiu para os brancos corredores do hospital, passou pela sala de operações. Chamou um amigo.
- Estou pensando em tirar um pedaço do meu cérebro. Eliminar a memória. O que você acha?
- Muito boa ideia. Por que não pensamos nisso antes? Opero você e depois você me opera. Também quero.
Ignácio de Loyola Brandão.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Quando eu escrever que ser egoísta cansa – e eu estou cansado -, leia-se no lugar algo bonito. Substitua as palavras por outras de que você goste mais. Dê uma olhada nos arquivos. Tenho certeza de que escrevi algo bonito pra você e, se escrevi, deve estar, sim, nos arquivos em algum lugar.
Ser egoísta cansa. Principalmente se a parte que no sujeito quer ser egoísta luta com a parte que não quer ser. Principalmente se a parte egoísta perde. Pois ela continua a espernear, como convém a uma parte egoísta. Tenho certeza de que ela esperneia no estômago (gastrite é o nome dela).
nota mental.
Dizer isso à médica quando todos os exames para as outras coisas derem negativo. talvez ela aconselhe terapia. psicotrópicos matadores de egoísmo, talvez). Principalmente quando você acha que deixou a parte que não quer ser egoísta ganhar porque, no fundo, essa é uma estratégia mesquinha para a parte egoísta não morrer, sobreviver no limiar em que medo e amor se confundem (no estômago?). E eles sempre se confundem. Quem consegue ser tão lúcido? Quando você se livra de um véu mais grosseiro de confusão vem, a seguir, um véu mais sutil. E mesmo esse, sutil, será o grosseiro da camada posterior. Sabe? Uma caixa dentro da outra? Um dia, gostaria de parar em uma delas, em uma das caixas. A delícia de ser superficial. Pelo menos por um instante.
Uma vez na vida, contentar-se com as migalhas a que os egoístas convictos se dedicam avidamente. Essas caixas são abertas, normalmente, com bisturi. Sem anestesia.
2° nota mental.
(Será que terei que fazer endoscopia? úlcera?). É ruim quando não se aceita a mentira e a verdade é difícil. Ou somos todos absolutamente sozinhos ou absolutamente um só. O que é mais fácil? Depende.
Você quer o mais fácil de aceitar ou o mais provável? Você quer que eu tire o esparadrapo rápido ou devagar?
Posso ficar com o esparadrapo?
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
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