segunda-feira, 18 de março de 2013

Se eu tivesse um Automóvel Verde
iria procurar meu velho companheiro
na sua casa no Oceano do Oeste.
Ha! Ha! Ha! Ha! Ha!

Tocaria minha buzina na sua máscula porta
lá dentro, sua mulher e três crianças
espreguiçando-se nuas
no assoalho da sala.

Ele viria correndo para fora
até meu carro cheio de heróica cerveja
e pularia gritando ao volante
pois ele é o melhor ao volante.

Peregrinaríamos até a mais alta montanha
das nossas antigas visões das montanhas rochosas
rindo nos braços um do outro,
nosso deleite acima das mais altas rochosas.

e depois da antiga agonia, bêbados de anos novos,
lançando-nos até o nevado horizonte
arrebentando o pára-lama com bop original
de carro envenenado na montanha

Sacudiríamos a nevoenta rodovia
onde anjos de angústia
cambaleiam entre as árvores
e berram diante do motor.

Arderíamos a noite toda entre os pinheiros do pico
visíveis de Denver na escuridão do verão,
clarão nada natural da floresta
iluminando o topo da montanha:

Infância adolescência idade & eternidade
se abririam como doces árvores
para as noites de outra primavera
atordoando-nos de amor,

pois juntos somos capazes de ver
a beleza das almas
ocultos como os diamantes
dentro do relógio do mundo,

somos capazes, assim como os mágicos chineses,
de confundir os imortais com nossa intelectualidade
escondida na neblina,

no Automóvel Verde que eu inventei
imaginei e vislumbrei
nas estradas do mundo

mais real que o motor
numa pista do deserto
mais puro que Greyhound 
e mais rápido que o jato físico.

Denver! Denver! Voltaremos
roncando pelo gramado do edifício City & County
que recebe a pura chama da esmeralda
raiando no rastro do nosso carro.

Desta vez compraremos a cidade!
Descontei um grande cheque na caixa do meu crânio
para abrir uma miraculosa universidade do corpo
no teto da estação rodoviária.

Porém primeiro percorreremos os pontos do centro da cidade
bilhares barracos botequins de jazz cadeia
prostíbulos da rua Folsom 
até os mais escuros becos de Larimer.

Prestando homenagem ao pai de Denver
perdido nos trilhos da ferrovia,
estupor de vinho e silêncio
reverenciando os cortiços das suas décadas,

nós os saudaremos e a sua santificada maleta
de escuro moscatel, beberemos e
quebraremos as doces garrafas
em Diesels demonstrando nossa fidelidade.

E depois seguiremos guiando bêbados pelas avenidas
por onde marcharam exércitos e por onde ainda desfilam
cambaleando sob invisível pendão da realidade.

Trombando pelas ruas, no automóvel do nosso destino
dividiremos um cigarro de arcanjo
e adivinharemos o futuro um do outro:

Famas de sobrenatural iluminação,
desolados e chuvosos vãos no tempo,

A grande arte aprendida na desolação
e nossa separação "beat" seis décadas depois...

e numa encruzilhada de asfalto
nos tratamos mais uma vez com
principesca gentileza, lembrando
famosas conversas mortas de outras cidades.

O pára-brisa cheio de lágrimas,
a chuva que molha nosso peito nu,
e juntos nos ajoelhamos na escuridão
no meio do tráfego noturno do paraíso

agora renovando o solitário juramento
que fizemos um para o outro no Texas:
não posso inscrevê-lo aqui...

Quantas noites de Sábado
teremos deixado bêbadas com esta lenda?
Como fará a jovem Denver para carpir
seu olvidado anjo sexual?

Quantos garotos baterão no piano negro
imitando os excessos de um santo da terra?
Ou garotas que cederam aos desejos 
sob seus espectros nos colégios da noite melancólica?

Quando tivermos o tempo todo na Eternidade
na tênue luz de rádio deste poema
sentaremos atrás das sombras esquecidas
ouvintes do jazz perdido de todos os sábados.

Neal, agora seremos heróis reais
numa guerra entre nossos caralhos e o tempo:
vamos ser os anjos do desejo do mundo
e levemos o mundo para a cama conosco
antes de morrer.

Dormindo sós ou acompanhados
por garota ou garoto ou sonho,
não me faltará o amor e a você a saciedade:
todos os homens caem, nossos pais caíram
antes,

mas ressuscitaremos essa carne perdida,
nada mais que o trabalho de um momento da mente:
um monumento fora do tempo para o amor
na imaginação:

Um mausoléu construído por nossos próprios corpos
consumidos pelo poema invisível
tremeremos em Denver e resistiremos
mesmo que o sangue e rugas ceguem nossos olhos.

Assim, este Automóvel Verde
eu o dou para você em fuga
um presente, um presente
da minha imaginação.

Continuaremos guiando
pelas rochosas
continuaremos guiando
por toda noite até a aurora,

até voltar à sua ferrovia, a Southern Pacific
sua casa e seus filhos
e seus destino de perna quebrada
você guiando de volta pela planície

ao amanhecer: e eu de volta
às minhas visões, meu escritório
e apartamento no leste
retornarei a Nova York.

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