sábado, 16 de junho de 2012

Para ela que foi descoberta entre chuva e sorrisos.

Eu sei que muitos já te olharam antes, mas eu havia me fixado nela, reparado, e acho que essa foi a minha vantagem.

Estive aguardando sua chegada a meses, mesmo sem te conhecer, mas eu sabia que apareceria.
Talvez se a noite passada não tivesse chovido, ainda estaríamos no anonimato total. Você a fazer seu mestrado em pedagogia, ler Marx, e acender um cigarro com uma elegância de fazer inveja a qualquer atriz clássica. Eu ainda estaria na mesma também, planejando minha viagem, lamentando por amores passados e aprendendo a fazer artesanatos em lã.

Mas choveu e todos procuraram abrigo, não carrego nada de valor comigo por isso não me importei com a água. Mas lá estava uma mulher tão bela cujos lábios formavam dois rios vermelhos separados por uma fenda enorme no meio e convergindo para as pontas, sorriso largo e quadril estreito, quanto aos olhos, não há descrição para eles, olhos são infinitos e os dela me levam a uma dedicação literária exclusiva. Uma mulher que faria qualquer um jogar todos os princípios no lixo. Sozinha - Como pode estar sozinha? - Decidi repentinamente que o frio me incomodava e me abriguei do seu lado, fiz questão de ficar entre você e a parede, mesmo com um espaço maior na outra direção do teto que nos protegia. (Queria que soubesse disso).


Só agora me dei conta de algumas coisas. O mundo é cheio de possibilidades e Beatriz conseguiu me provar isso com uma retórica puco argumentativa. Quem não acredita do que sai da sua boca? Eu apenas queria beijá-la e sentir ela arrepiando minha nuca com as duas mãos.

Queria ser capaz de parar o tempo, dizem que existe um vilarejo onde o tempo nos espera. Arrume sua mochila e me acompanhe. Eu sei que a ideia de mochilar por aí te assusta e achas que sou louco. Mas qualquer viagem com você parece ser mais confortante, menos cinza. Quer se mudar para lá comigo? Assim não terás que levantar a cabeça do meu peito mais nunca, e poderemos dormir mais quantos minutos quisermos, eu contando uma história engraçada da minha adolescência enquanto embaraço meus dedos nos teus cabelos que são mais lindos que qualquer obra de arte pós moderna, e você enrolando alguns poucos fios que tenho no peito, tentando achar significados diferentes para minha tatuagem, com a perna esquerda sobre as minhas pernas, como se tivesse medo que eu fugisse ou aquele momento fosse interrompido por qualquer austeridade absurda.

Eu apenas sorria da nossa situação, juntos parecia que nada mais poderia me tirar do eixo. Gozávamos de uma noite intensa, cheia de simbolismo. O jeito que você me beijou desejando boa noite e dizendo: "Toda dor vem do desejo de não sentirmos dor." Me marcou na pele, pois eu não queria dormir, não queria acordar, não queria que o intenso desejo de ser e existir esvai-se pelo colchão. Sensação etérea e rarefeita.

Bia, agradeço por embaraçar toda a visão de efemeridade que eu carregava comigo. Não sei quando vamos nos encontrar novamente, mas sei que vai acontecer, pois tu és uma espécia de medusa dos tempos de hoje, capaz de embrutecer um homem, friamente, apaixonadamente, com coragem.

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